"Quem avista ao longe as muitas "ventoinhas" que proliferam nas montanhas um pouco por todo o lado, não imagina o assombro que a sua dimensão real provoca. Essa espécie de "cata-vento" dos tempos modernos, que a quilómetros de distância parece um brinquedo colocado às dezenas e com a maior facilidade por uma mão gigantesca no cimo dos montes, constitui uma obra de engenharia e construção que deixa qualquer comum mortal de olhos esbugalhados.
Para se ter uma ideia, cada torre eólica que se avista, precisa de dez camiões de peças para ser montada como se de um lego gigante se tratasse e assenta numa base que os técnicos designam "sapata", construída com 18 camiões de betão e que chega a pesar até 15 toneladas. "Desde as fundações até à montagem de uma torre, estamos a falar de dois meses de trabalho", contou ao JN, Pedro Chaves, o director de obra do parque eólico em instalação em Mendoiro, Monção.
O maior investimento do país em energia eólica está, de facto, a ser feito no Alto Minho, mas, nos últimos anos, e por todo o país - com maior incidência no Norte - a potência instalada tem sofrido um forte incremento, com o objectivo de, dentro de cinco anos, se atinja os 4750 megawatts.
Centena de torres
Para se ter noção da grandeza do império de eólicas que, actualmente, está a ser erguido no território de Monção, Melgaço, Paredes de Coura e Valença, todos concelhos vizinhos, basta fazer contas, com base nos dados atrás referidos, às 120 torres eólicas que, até ao final deste ano, serão instaladas. As obras foram iniciadas em Fevereiro de 2006 e, nesta altura, o conjunto de torres que formam o designado parque eólico Alto Minho I, está quase de pé. O empreendimento, que se divide em cinco subparques edificados nos quatro concelhos, anuncia-se como o maior empreendimento do sector da Europa e um dos mais avançados a nível mundial.
"Isto é a coisa mais moderna do mundo. É uma grande obra de engenharia", considera Carlos Pimenta, administrador da Empreendimentos Eólicos do Vale do Minho (EEVM), a empresa promotora do investimento que deverá atingir os 400 milhões de euros. Pimenta, antigo secretário de Estado do Ambiente, tem sido um grande entusiasta do megaprojecto, que actualmente cresce a olhos vistos em "12 frentes de trabalho", e que em breve entrará na fase de produção.
"Estamos na iminência de começar os testes, mais três, quatro meses, e estaremos a iniciar a produção. Aqui testa-se produzindo", anunciou, ao JN, sublinhando que o Alto Minho I deverá entrar em funcionamento no início de 2008. O objectivo será atingir um nível máximo de produção de 600 GWh/ ano, o que equivale a cerca de "quatro vezes" o consumo de energia eléctrica nos quatro concelhos e "1% da electricidade do país".
Seiscentos homens
Actualmente, há cerca de 600 homens a trabalhar no terreno, na parte de construção civil. Melgaço terá três pólos de produção de energia eólica em Picos, com 26 torres eólicas, Alto Corisco, com 33 e Santo António com 16 máquinas instaladas. Valença e Paredes de Coura produzirão a partir de um subparque comum, o de Picoto/S. Silvestre, e, finalmente, o subparque de Mendoiro em Monção, será o "coração do projecto", com as suas 26 torres eólicas e uma sub-estação de transformação, que receberá, através de dezenas de quilómetros de cabos subterrâneos, toda a energia produzida pelo conjunto de mais de uma centena de torres eólicas. Dali, a produção será transportada para uma futura estação a construir pela Rede Eléctrica Nacional (REN) em Pedralva (Braga), através de mais de 50 quilómetros de linha de alta tensão.
Voltando ainda aos números astronómicos que este empreendimento move, refira-se as cerca de cem toneladas de peso da estrutura do transformador principal já instalado no subparque de Mendoiro. "São tudo peças gigantescas", comenta outro administrador da EEVM, José Miguel Oliveira, comentando que, para cada torre eólica, "são necessários três a quatro camiões para transportar as peças do corpo da torre, três para as pás, um para o aerogerador e outro para a 'nacelle' (a peça que sustenta as pás)". Refira-se que existem dois modelos de torres eólicas, as E-70 e as E 82 (números que se relacionam com o diâmetro das pás), que medem, respectivamente, 65 e 78 metros de altura.
Dezenas de quilómetros
A dimensão do projecto mede-se, ainda, pelas dezenas de quilómetros de acessos que tiveram de ser criados de novo ou alargando os já existentes, para permitir a instalação das torres a grandes altitudes. O parque de Picos, em Melgaço, é de todos o que se encontra num ponto mais alto, a 1300 metros de altitude, mas, por exemplo, o pólo de Mendoiro, a cerca de 700 metros de altitude, implicou a abertura de cerca de 16 quilómetros de estradões, ladeados por linhas de água em calçada portuguesa. Desde Março, a EEVM tem em funcionamento três parques autónomos em S. Paio, Vila Nova de Cerveira, e em Agra e Espiga, Caminha".
Ana Peixoto Fernandes, Jornal de Notícias, 15/Novembro/2007
2 comentários:
Bom dia.
Não gosto da estética mas é uma forma de gerar energia limpa e barata(?). Só espero que não traga associados outros inconvenientes como os que se têm apregoado em relação aos transmissores da rede telefónica móvel.
De facto, é uma forma de gerar energia limpa e barata.. o futuro da energia!
Mas esteticamente tb não gosto e espero que não se lembrem de construir eólicas em Castro Laboreiro.. Para além das vantagens óbvias a nível energético, não me parece q possam trazer algum "desevolvimento" a Castro..
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