No artigo “A linguagem dos objectos e a criação de significado no espaço doméstico: um repertório de afectos”, Carolina Leite, do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, recorrendo a um artigo de Castro Caldas de 1943 *, refere que:
“Depois de uma descrição minuciosa das formas construtivas e dos poucos materiais de construção utilizados (pedra, talhada em blocos), já que a cal a argamassa eram raros, isto para não falar na madeira, pois segundo o autor era material que apenas se destinava à construção das coberturas e dos pavimentos, este prossegue, acrescentando detalhes quanto à tipologia dominante local:
«O edifício destinado a moradia tem dois compartimentos separados por uma divisória de tábuas de pinho apenas justapostas», cada um deles com uma área de cerca de 9 m2 (Castro Caldas, 1943: 83). Num destes compartimentos encontra-se a lareira, ao centro, enquanto o outro é destinado a quarto de dormir, do casal e de duas filhas. Como se pode ler, são divisões mal arejadas e onde a falta de uma chaminé impede a saída do fumo e a renovação do ar. Existem depois os espaços de armazém e da corte do gado. Esta concepção rudimentar do interior doméstico permanece ainda hoje visível em numerosas habitações rurais que mantiveram a sua estrutura ancestral.
A casa que o autor nos faz visitar situa-se na freguesia de Castro Laboreiro, no concelho de Melgaço. O espaço doméstico organiza-se em torno da lareira, numa atmosfera “impenetrável de fumo” marcada pelo extremo desconforto (Castro Caldas, 1943: 80). Todos os bens existentes na casa, entre mobiliário e utensílios domésticos, descritos de forma exaustiva num inventário a que não faltam o cálculo do valor de compra e do valor estimado à data do inquérito, correspondem à lista que a seguir transcrevemos:
2 camas de pinho, com colchão;
1 cama de pinho com colchão;
1 banco de lareira;
1 banco comprido sem costas;
1 banco pequeno;
1 armário de parede;
1 armário tosco;
1 masseira de pinho;
2 arcas de castanho;
1 máquina «Singer», modelo antigo.
A lista dos utensílios não é longa:
3 potes de ferro;
23 garfos;
26 colheres;
3 facas;
2 almotolias;
1 caneco para a água;
1 peneira;
1 lampião;
1 candeio.
Acrescentam-se ainda, no capítulo das louças e vidros:
“Depois de uma descrição minuciosa das formas construtivas e dos poucos materiais de construção utilizados (pedra, talhada em blocos), já que a cal a argamassa eram raros, isto para não falar na madeira, pois segundo o autor era material que apenas se destinava à construção das coberturas e dos pavimentos, este prossegue, acrescentando detalhes quanto à tipologia dominante local:
«O edifício destinado a moradia tem dois compartimentos separados por uma divisória de tábuas de pinho apenas justapostas», cada um deles com uma área de cerca de 9 m2 (Castro Caldas, 1943: 83). Num destes compartimentos encontra-se a lareira, ao centro, enquanto o outro é destinado a quarto de dormir, do casal e de duas filhas. Como se pode ler, são divisões mal arejadas e onde a falta de uma chaminé impede a saída do fumo e a renovação do ar. Existem depois os espaços de armazém e da corte do gado. Esta concepção rudimentar do interior doméstico permanece ainda hoje visível em numerosas habitações rurais que mantiveram a sua estrutura ancestral.
A casa que o autor nos faz visitar situa-se na freguesia de Castro Laboreiro, no concelho de Melgaço. O espaço doméstico organiza-se em torno da lareira, numa atmosfera “impenetrável de fumo” marcada pelo extremo desconforto (Castro Caldas, 1943: 80). Todos os bens existentes na casa, entre mobiliário e utensílios domésticos, descritos de forma exaustiva num inventário a que não faltam o cálculo do valor de compra e do valor estimado à data do inquérito, correspondem à lista que a seguir transcrevemos:
2 camas de pinho, com colchão;
1 cama de pinho com colchão;
1 banco de lareira;
1 banco comprido sem costas;
1 banco pequeno;
1 armário de parede;
1 armário tosco;
1 masseira de pinho;
2 arcas de castanho;
1 máquina «Singer», modelo antigo.
A lista dos utensílios não é longa:
3 potes de ferro;
23 garfos;
26 colheres;
3 facas;
2 almotolias;
1 caneco para a água;
1 peneira;
1 lampião;
1 candeio.
Acrescentam-se ainda, no capítulo das louças e vidros:
10 pratos, 3 travessas, 4 copos, 6 garrafas, 4 malgas, 2 alguidares.
E, finalmente, as roupas de casa:
6 lençóis, 2 travesseiros, 6 mantas, 4 mantas, 5 metades de manta, 4 toalhas de mesa e uma toalha de rosto.
Se tentássemos igual inventário na actualidade, nas famílias que embora tendo nascido e vivido neste cenário, o abandonaram, trocando-o por outro destino, no país ou no estrangeiro, seríamos confrontados com a enorme dificuldade em repertoriar todos os objectos presentes na casa, dada a sua multiplicação provável em muitas dezenas de novos objectos, alguns dos referidos e muitos outros entretanto acrescentados.
A progressiva acessibilidade à abundância de objectos veio transformar este cenário, até há pouco dominante em largas zonas do país, passando-se, no curto espaço de duas ou três décadas, da precaridade à abundância, da estrita funcionalidade dos objectos artesanais para o discurso da sua preservação (e isto em nome da salvaguarda de savoir-faire artesanais ameaçados de liquidação total pela avalanche imposta pela reprodução industrial)”.
* Caldas, Castro (1943), “A habitação rural no Minho Interior ou Alto Minho”, in Basto, E. A. Lima; Barros, Henrique de, Inquérito à Habitação Rural, 1.º volume, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, pp. 73-136
Fonte: Leite, Carolina (2000), “A linguagem dos objectos e a criação de significado no espaço doméstico: um repertório de afectos”, in Comunicação e Sociedade 2, Cadernos do Noroeste, Série Comunicação, Vol. 14 (1-2), pp. 205-216
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