"Neve em Castro Laboreiro causou incómodos a uns e alegria a outros. Excursionistas salvos por hoteleiro
Há dez anos que Castro Laboreiro não via tanta neve. O nevão que começou a cair na noite de sexta-feira passada e ainda continuava ontem cortou estradas, isolou aldeias e arrasou com o negócio de alguns, mas fez a alegria de outros.
Trinta amigos de Vila Nova de Gaia, que todos os anos por esta altura se reúnem para um almoço de Natal só para homens, estavam longe de imaginar o que os esperava este ano quando escolheram Castro Laboreiro para o repasto. À chegada a Lamas de Mouro, localidade vizinha daquela onde tinham restaurante marcado, depararam-se com uma paisagem carregada de branco e uma estrada quase intransitável para o autocarro em que se deslocavam. "Não contava nada com isto. Lá em Gaia de manhã quando saímos estava bom", referia Adriano Couto, entre o receoso e o maravilhado.
António da Silva, proprietário do restaurante residencial "Miradouro do Castelo", em Castro Laboreiro, a cerca de 900 metros de altitude, onde o grupo de amigos mantinha a reserva, nervoso, desdobrou-se ontem em esforços para não perder mais clientela porque durante o sábado e uma parte de domingo, a estrada entre Lamas e Castro esteve impraticável. "Só este fim-de-semana foram 3000 euros de prejuízo. As reservas de almoços, jantares e dormidas foram todas canceladas. Ontem (domingo) tinha mais de 60 pessoas, 40 portugueses e cerca de 25 espanhóis", lamenta.
Para não correr riscos e já com a estrada mais acessível, pelo menos, para jipes e viaturas todo-o-terreno, este empresário chamou os amigos e fez o transbordo do grupo de excursionistas. O autocarro ficou em Lamas de Mouro e o almoço de Natal acabou por se concretizar em ambiente de grande festa.
"Isto é mais que uma lotaria. Esperei 54 anos para ver isto. Já fui muitas vezes à Serra da Estrela, mas nunca vi nada assim. Isto é um alimento para os meus olhos", celebrava Mateus Lemos, encantado com a surpresa em que resultou o encontro anual dos amigos de Gaia. "Não imaginávamos. Não fazíamos ideia de que iríamos ver esta lindeza toda. Já liguei à minha mulher a contar e nem precisava de almoçar, por mim já estava satisfeito", acrescentou o homem, como que dando voz à alegria reinante entre os seus amigos.
João Silva, um jovem natural de Braga, mas presença assídua aos fins-de-semana em Lamas de Muro, foi um dos que ontem disponibilizou o seu jipe, um Land Rover série 3 de 1968, para fazer o transbordo dos comensais. "Pediram-me para dar uma ajuda e eu vim. Não custa nada", afirmou, referindo que desde sábado não faz outra coisa senão socorrer pessoas por causa do nevão. "Andei a tirar pessoal da estrada, que ficava com os carros atascados", diz.
A liderar as operações de socorro espontâneas, estava Joaquim Vieira, outro jovem bracarense, assíduo naquela freguesia de montanha, que afirmou: "Há muitos anos que não caiu um nevão destes, pelo menos, há dez". "
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