domingo, 7 de junho de 2009

O "Acendimento" - tradição Castreja

Num dos muitos fins de semana que passo em Castro, em conversa com a minha tia (uma tia velhinha, como ela costuma dizer) e os meus padrinhos, fiquei a saber que houve em Castro uma tradição/costume ligado á religião que só era praticado lá e que terminou pouco antes de o Padre Aníbal terminar as suas funções de Pároco, o “acendimento” (não se conhece na zona norte outra localidade onde se praticasse).
O “acendimento” consiste em acender uma vela, todos os Domingos após o falecimento de um Castrejo (utilizo “castrejo” pois como referi anteriormente era uma prática apenas utilizada em Castro), durante um ano (12 meses mas em Agosto não se praticava portanto seria ao longo de 13 meses), por um ou mais membros da família do falecido.
Este costume, o “acendimento” começava logo no Domingo a seguir ao funeral e neste 1º acendimento participava a família toda, os amigos e os vizinhos que quisessem respeitar o falecido e a sua família. Depois esta prática repetia-se todos os Domingos, depois de missa mas já só participava um ou dois membros da família.
O Padre posicionava-se na “Cruz da Igreja” e enquanto as pessoas passavam a vela umas para as outras, ele dizia umas rezas/”responsos”. Era utilizada uma única vela, que ia passando de mão em mão por todas as pessoas.
Cada pessoa que participava pagava, a minha madrinha lembra-se de pagar 5 tostões, mas só se pagava no 1º acendimento, assim sendo, cada pessoa que “acendesse” a vela com intenção pela alma de alguém pagava então 5 tostões (não era por falecido, era por participante).
Tentei informar-me de onde teria surgido esta tradição e saber o porquê dela existir, com que objectivo e desde quando ela existiria mas, nem a minha tia velhinha nem a minha madrinha me souberam explicar. Apenas me disseram que se lembram se ser sempre assim. Já na mocidade delas existia, a minha madrinha lembra-se de ser adolescente e de a mãe a mandar com uma vizinha mais velha.
Na altura não havia estrada e muito menos carros, então o trajecto era feito a pé, de burro e mais tarde com a chegada da estrada, em alguns casos, as famílias mais ricas, de carro.
Para algumas pessoas, só nesta ocasião é que saiam dos seus Lugares, e muitas pessoas acabaram por só se conhecerem nesta prática.
Do meu ponto de vista, esta tradição realça mais uma vez a cultura Castreja, pois na freguesia ao lado, Lamas de Mouro, e mesmo tendo o mesmo Padre este costume já não era praticado.
No decorrer da conversa e porque um assunto leva sempre a outro, fiquei também a saber que em Castro havia outro costume (de certa forma ligado a este) e que terminou há pouco tempo, há cerca de 7/8 anos com o Padre Bento, quando este veio substituir o Padre Aníbal quando já não se encontrava em condições de exercer as suas funções como Pároco de Castro Laboreiro. Este costume tem a ver com o facto de os defuntos ficarem á entrada de Igreja no dia do funeral e não no cima “cruz da Igreja” como se faz actualmente.
Gostava de ter tido a oportunidade de falar careca disto com o Nosso Querido Padre Aníbal, ele de certeza teria muitas coisas para me contar e certamente que saberia esclarecer-me porque é que Castro tem tantos costumes muito próprios, mesmo alguns religiosos que deveria ser universais. Mas, isso infelizmente já não é possível, por isso vai ficar sempre a dúvida, mas uma coisa é certa, Castro é diferente, Castro é muito próprio, Castro “tem personalidade"...

PS: Vou tentar obter mais informações acerca desta tradição e se souber de algo a este respeito, não deixe de nos contar

4 comentários:

Anónimo disse...

Cara bonita,

Olha que não...Olhe que não.
Esta enganada.
Já agora:os Castrejos nunca andaram de burro. Não se conhece tal expressão por estas bandas.

um boca negra

S. disse...

Caro Boca Negra,

Obrigada pela sua visita e pelo seu comentário.

Quanto à expressão, essa foi a informação que me deram os nossos conterrâneos mais idosos.Tanto quanto sei, em Castro, tanto um burro, um cavalo, um jumento, etc eram sempre apelidados de "burros".

No entanto espero que tenha gostado do artigo.

Anónimo disse...

Cara linda,

Gostei do artigo, mas a conclusão é errada. Deve aprofundar os temas, atendendo a todas as consequências nefastas que daí advêm para o conhecimento da nossa riqueza cultural.
Em relação às cavalgaduras, a coisa é mais fácil do que a dos acendimentos, no entanto há muito para saber e filosofar, e parece-me claramente que a sua frase não é bem medida, e é desprovida de algumas reflexões importantes.
Ora anote o que havia: mulas (poucas), éguas (mais numerosas) e pouquíssimos cavalos (não inteiros, ou seja capados).
Sabe a diferença entre burros e jumentos? Os mesmos são fáceis de contar. Em 100 anos contam-se nos dedos de uma só mão.
O termo que se usa na nossa terra è: “a burra”, e quase sempre referente à égua, e algumas, poucas vezes, à mula.
O termo burro raramente é usado em relação ao cavalo (poucos exemplares), e nunca, mas nunca, referido à égua ou à mula.
Como pode ver isto apresenta algumas dificuldades.
Como quem andava a cavalo eram as mulheres e os rapazes ou rapazas, porque os homens andavam fora, que lhe parece que tinham? Burras, ou seja éguas.
Quem andava no transporte de mercadorias ou no contrabando? As mulheres. E que tinham? Burras, ou seja mulas.
A cara linda, só fala de: “burro, um cavalo, um jumento”, ou seja não é nada disso.
Falta-lhe conhecimento prático, porque ao falar de burros, penso logo nas minhas idas de pequenote com os mais velhos para terras espanholas e de Trás-os-Montes, onde o burro fazia, e era parte da paisagem, associado claro a um tipo de cultura diferente.
Ter uma égua era um desperdício para alguns; Animal delicado, come, é necessário aposento individual (a corte da burra), pouco trabalha, facilmente é encornada, etc.
As éguas eram muito mais abundantes nos lugares de duas casas. O motivo é óbvio.
Ao falar de cavalgaduras estamos a falar de necessidade/ganho/despesa (mula), necessidade/prosperidade/vaidade (égua) e prosperidade/vaidade/luxo (cavalo).
No ciclo evolutivo da nossa bem-dita terra, consta a substituição da burra ou seja da égua, pela famosa maqui(e)neta (deixo isto para outras núpcias), porque as mulas já tinham desaparecido com o contrabando de outros tempos e com a chegada das estradas.
Concluindo:
Em Castro Laboreiro os burros de todas as espécies são raríssimos!
Ao contrário do que a fronssa intui, as fêmeas sempre foram as rainhas e donas da nossa bem querida. O que havia mais: mulheres (homens emigravam), éguas (poucos cavalos, e não inteiros), mulas, vacas (veja: carro de vacas e não de bois), cadelas (muito menos cães), galinhas (poucos galos), etc. E não me fale dos porcos, porque esses eram para ir ao cuitelo.
Acredito que a sua idade e lugar de nascimento não tenham ajudado a perceber melhor o assunto tratado, porque se tem andado a cachapernas (até determinada idade, porque depois era vergonha) versava mais sobre o tema.

S. disse...

Olá :-)

Mais uma vez queria agradecer o seu comentário :-)

É sempre com grande gosto que vemos os nossos artigo gerarem "discussão" :-), é para isso mesmo que este blog serve. Para por as pessoas activas, a relembrar outros tempos e sobretudo a contar esses episódios aqui :-)
A "discussão" leva ao desenvolvimento, e o seu comentário foi de grande ajuda para me elucidar e penso que também aos leitores, assim ficamos todos a saber mais um bocadinho da cultura castreja.
É verdade que não vivi nessa época e muitas "coisas culturais" já não estão tão presentes em mim, mas esforço-me por preservar, entender e pesquisar mais sobre Castro Laboreiro, coisa que outros tentam esquecer.

Quanto ás mulas, éguas, cavalos, jumentos, burros,ou seja lá o que for, um dia vou dedicar um artigo a esse assunto ;)(já tenho aqui algumas dicas).

O meu muito obrigado e continue a contar-nos aqui mais alguns episódios que nos deem a conhecer mais um bocadinho de Castro.