segunda-feira, 30 de agosto de 2010

As grandes barragens hidroeléctricas

"Falar da emigração portuguesa para o Québec durante os anos 60 é falar da construção das imponentes barragens hidroeléctricas, situadas na zona da floresta boreal e da tundra do norte quebequense, resultantes dum projecto visionário de um dos grandes primeiros ministros da província, o senhor Robert Bourassa.

Estão situadas na região da baía de James. Terras inóspitas para o homem branco, na altura apenas habitadas pelos esquimós, que só após longas negociações com o governo provincial aceitaram a construção das mesmas. Nomes como LG2, LG3 ou LG5 são termos conhecidos em Castro Laboreiro e outras povoações do norte de Portugal, pois muitos dos seus habitantes vinham aqui trabalhar durante os meses de Verão, em condições extremas, mas para as quais eram extraordináriamente bem recompensados. Eram normalmente jornaleiros, e o clima apenas permitia trabalhar no exterior entre Abril e Outubro. Durante esses escassos meses de duro trabalho, recebiam salários milionários. Normalmente no fim de Outubro regressavam a Portugal para junto dos familiares (muitos desses nunca vieram ao Canadá) e como o controlo do Fundo de Desemprego, tinha muitas falhas na altura, acontecia que durante todo o tempo da estadia em Portugal, recebiam ainda montantes aos quais teriam apenas direito se aqui passassem os meses de Inverno e estivessem disponiveis para fazer outro tipo de trabalho. Foi igualmente a época gloriosa da presença da TAP nesta cidade, que benificiava deste tráfego certo, e na época baixa para o turismo.

Sendo a grande maioria dos portugueses no Québec oriunda dos Açores, é curioso que nunca se sentiram muito atraídos para este tipo de trabalho, quedando-se normalmente na grande cidade, para onde traziam toda a familia e amigos. Instalavam-se definitivamante por aqui desde a chegada, ao contrário do continental que de uma forma geral, e se a vida lhe permitir, pensa sempre em adquirir uma casa, ou no mínimo um apartamento na região de onde partiu. Como consequência disto, volta também mais regularmente às origens, ao contrário dos insulares, que, salvo algumas excepções, preferem investir as suas economias na terra onde vivem, e voltam com menos frequência às origens.

Concluídas estas grandes barragens, este tipo de emigração sazonal desapareceu. E como estes homens nunca criaram raizes nestas terras, voltando definitivamente para Portugal, inicia-se assim uma crise para as companhias aéreas que faziam a ligação entre o Canadá e Portugal. Nesses bons anos da indústria, e no Verão, se aos sete voos da TAP juntarmos cinco da Canadian Pacific, entretanto desaparecida como companhia aérea, mantendo apenas a vertente ferroviária, partiam de Montreal para Lisboa doze voos semanais directos . Hoje, se juntarmos as partidas de Montreal e de Toronto não atingimos esses números. Devo mencionar que na altura, a indústria aérea ainda não estava liberalizada e todas as partidas e chegadas internacionais de e para o Canadá, tinham obrigatoriamente de passar por Montreal, que ainda hoje é sede de várias organizações supra-nacionais desta indústria.

Todas essas grandes barragens, que os portugueses ajudaram a construir, produzem hoje para a província a electricidade de que necessitamos, e com a qual muitos de nós aquecemos as nossas casas durante os longos meses de Inverno, a preços muito reduzidos, pois os excedentes são exportados para as outras províncias e para os Estados Unidos, a preços de mercado. Neste momento debate-se se, a longo termo, não será pernicioso manter esta situação, e há quem defenda que as nossas tarifas da electricidade deverão subir, obrigando assim a população a poupar no cosumo. A situação actual dá origem a exageros, sendo normal ver em pleno Inverno com uma temperatura exterior de -20 Cº, as pessoas passearem-se em shorts no interior das suas habitações.

Ainda devido à visão desse grande primeiro ministro da altura, Sr. Robert Bourassa, e ao contrário dos nossos vizinhos, o Québec não possui centrais nucleares".

J.L. Reboleira Alexandre

jose.alexandre@videotron.ca

in: Gazeta das Caldas, 26/Agosto/2010

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