O Inverno numa zona da montanha. O Verão passado em quotas mais altas. Em Castro Laboreiro, Melgaço, a transumância é feita ainda hoje por perto de 40 famílias. O museu da localidade revela este modo de vida das gentes da montanha.
De pedra e telhado de palha. Assim se constroem as casas das Inverneiras, locais para passar os três meses de Inverno. Na Peneda-Gerês a vida de muitas aldeias faz-se longe do conforto que caracteriza as habitações dos centros urbanos. Condições climatéricas duras obrigam aos ciclos de transumância: de Verão, nas Brandas, onde as casas, sempre feitas da dura pedra, se situam a entre os 1100 e 1300 metros de
altitude. Quando a neve começa a cair, as Brandas já não são bons locais para o gado. O Inverno chegou e é tempo para uma nova mudança. As famílias deslocam-se, montanha abaixo, para as Inverneiras.
A 15 de Dezembro, a população desce às Inverneiras, localizadas entre os 400 e os 800 metros. Aqui permanecem até 15 de Março.
«Aqui em Castro Laboreiro existem cerca de 40 famílias, num total de sete aldeias, a fazer esta transumância», conta a técnica do Museu de Castro Laboreiro, Elisabete Sousa. A responsável explica que esta região do país, no concelho de Melgaço, é das únicas onde este modo de vida permanece. «Por exemplo, na Serra da Estrela desloca-se com o gado apenas o pastor. A família permanece fixa», diz.
Entre as Brandas e as Inverneiras as diferenças de temperatura podem chegar aos seis graus. A Primavera e o Verão têm de ser passados nas Brandas, locais mais altos, devido ao calor elevado que se sente nas Inverneiras. As altas temperaturas não permitem que a água seja abundante e o pasto seca. O gado precisa de ser mudado para as Brandas e com ele segue toda a família. As quotas entre os 900 e 1000 metros são locais fixos, mais virados para os serviços e não tanto para a pastorícia.
Museu revela modo de vida localO Museu da Castro Laboreiro é gerido pela Câmara Municipal de Melgaço e existe desde 2003. O espaço museológico ocupa o edifício de uma antiga fábrica de chocolate. O objectivo é dar a conhecer o modo de vida das gentes do concelho.
Maquetas mostram o relevo do território, dando uma imagem dos locais das Inverneiras e das Brandas. Há ainda um espaço alusivo à fábrica de chocolate que ali funcionou. Neste canto do museu expõem-se uma torradeira do cacau e um forno. No mesmo espaço estão recortes do jornal «A Neve», propriedade do dono da fábrica. Elisabete chama, então, a atenção para um anúncio publicitário. Lê-se: «quereis engordar em pouco tempo? Tomai todos os dias chocolate da afamada fábrica de Castro Laboreiro».
«Reparem como era. Agora vendem-se produtos para emagrecer», brinca Elisabete.
O traje de Castro Laboreiro está também guardado no museu. A nossa anfitriã explica: «o traje sempre foi preto porque, na montanha, a cor era sinónimo de responsabilidade. As miúdas casavam de preto, levando colorido apenas um lenço de seda amarelo. Quando, os senhores imigravam, elas continuavam de preto. Se ficavam viúvas, de preto continuavam toda a vida».
As raparigas novas, sem estarem na idade de casar, vestiam em tons escuros como verde e, vermelho cor de vinho.
Forno comunitário ainda coze pão
«Castro Laboreiro tem 40 aldeias, tem 40 fornos comunitários», diz Elisabete. Os fornos ainda hoje são utilizados por algumas famílias e tem um funcionamento organizado. «Se hoje quero cozer o pão, então vou buscar a chave à ultima pessoa que cozeu e assim sucessivamente. A única responsabilidade é deixarem o forno limpo como o encontraram», diz. Cada forno leva à volta de 20 pães e as famílias fazem-no em grandes quantidades para durar pelo menos um mês.
Casa de mulheres
A casa contígua ao Museu era habitada só por mulheres, por isso tem uma só habitação. Quando havia homens, então fazia-se uma divisão. «A casa foi reconstruída como era antigamente. No rés-do-chão estavam os animais que aqueciam com o seu corpo a estrutura. O resto do aquecimento ficava por conta da lareira», explica Elisabete Sousa.
No chão e na parede mostram-se utensílios do trabalho agrícola como ancinhos, foices, a batedeira de colmo, utilizada para bater a palha até que estivesse bem unida e pronta para fazer o telhado das casas, a férrea, utensílio para tirar o pão do forno e as forquilhas.
No primeiro andar era a casa de habitação. Aqui está a cama que no local do estrado, tem cordas, o baú para guardar as mantas, a lareira, a almofada e o colchão de palha, entre outros bens comuns em tempos remotos.
Sara Pelicano, Café Portugal, 5 de Abril de 2010
Sara Pelicano, Café Portugal, 5 de Abril de 2010
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