Parque da Peneda-Gerês continua a arder intensamente e chamas já rondam aldeias
Quase toda a Zona Norte, junto à fronteira com Espanha esteve, esta terça-feira, envolta em chamas. De Melgaço a Freixo de Espada a Cinta, fogos pintaram de negro três parques nacionais: Gerês, Montesinho e Douro Internacional.
O fogo que há dias consome mato e floresta em inúmeros pontos o território do Parque Nacional da Peneda Gerês - entre outros, igualmente graves, em toda a região norte (ver página ao lado) - atingiu ontem uma habitação, no lugar de Coriscadas, em Castro Laboreiro, Melgaço, da qual só restaram as paredes. A sua proprietária e única habitante, uma mulher, viúva, com 71 anos, ficou sem tecto e foi realojada em casa de familiares. Outras habitações estiveram, por proximidade, em risco, mas, segundo a população, a pronta intervenção dos bombeiros evitou o pior. "Havia fogo por aqui nestas matas pela beira das casas e depois as chamas que saíam das giestas entraram para dentro de casa dela, começou a arder e queimou-lhe tudo o que ela tinha, só ficou com a roupinha que tinha vestida. Não teve tempo de tirar nada", contou, ao JN, uma vizinha que acolheu a idosa desalojada durante várias horas.
"Ela estava muito nervosa, passou o dia a chorar. Isto foi uma desgraça muito grande", referiu. A mulher terá sido instalada em casa de familiares em Castro Laboreiro. Transtornada com o sucedido estava também Palmira Rodrigues, 64 anos, moradora na habitação ao lado da que foi devastada pelo fogo e que teve de ser "tirada à força" de casa pelos bombeiros. "O lume andou muito depressa. A minha casa esteve quase a arder, mas vá lá que estavam aqui os bombeiros e protecções civis de toda a parte. Eu tive muito medo e não queria sair da casa, mas fizeram-me sair à força porque estava em perigo", contou, afirmando: "O fogo foi posto. Toda a gente sabe disso".
O incêndio que lavrava em duas frentes desde segunda-feira à tarde, na serra, em Castro Laboreiro, foi dado como extinto de madrugada, às 3 horas, reacendeu ontem pela manhã e foi debelado ao fim da tarde de ontem. Segundo Robalo Simões, do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Viana do Castelo, as chamas atingiram a habitação "porque o rés-do-chão tinha muita palha e lenha com fartura e com alguma facilidade propagou o fogo". "Em minutos, a casa ficou tomada e não houve possibilidade de a salvar", adiantou.
Cerca das 18 horas de ontem, o mesmo responsável dava como circunscrito um outro fogo que ardia em simultâneo na freguesia vizinha de Lamas Mouro, há cerca de 24 horas. Sobre a origem destes incêndios quem anda no terreno a combatê-los recusa-se a aventar qualquer hipótese, mas entre a população muitos são os que afirmam haver nesta situação "mão criminosa".
"Já viu alguma coisa arder sem lhe fazer lume? Para acender um cigarro não tem de lhe pôr lume para arder? Pois aqui é a mesma coisa", comentava indignado Manuel Rodrigues, 68 anos, acrescentando: "Se eu soubesse quem foi, já estava na cadeia ou ia buscá-lo pela gola do casaco e metia-o no meio do lume".
Parques naturais em 2008
Montesinho
Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, em 2008, entre todas as áreas protegidas do país, foi no Parque Natural de Montesinho que ardeu maior área: 1398 hectares. Segue-se o da Serra da Estrela (589) e o da Peneda-Gerês (238).
Área ardida
Em 2008, arderam menos 25697,445 hectares em áreas protegidas, com destaque para o Parque Natural de S. Mamede, com menos 10305,57 hectares relativamente ao ano anterior. No Parque Natural de Montesinho arderam mais 1302 hectares que em 2007.
Ana Peixoto Fernandes, Jornal de Notícias, 25/Março/2009
Quase toda a Zona Norte, junto à fronteira com Espanha esteve, esta terça-feira, envolta em chamas. De Melgaço a Freixo de Espada a Cinta, fogos pintaram de negro três parques nacionais: Gerês, Montesinho e Douro Internacional.
O fogo que há dias consome mato e floresta em inúmeros pontos o território do Parque Nacional da Peneda Gerês - entre outros, igualmente graves, em toda a região norte (ver página ao lado) - atingiu ontem uma habitação, no lugar de Coriscadas, em Castro Laboreiro, Melgaço, da qual só restaram as paredes. A sua proprietária e única habitante, uma mulher, viúva, com 71 anos, ficou sem tecto e foi realojada em casa de familiares. Outras habitações estiveram, por proximidade, em risco, mas, segundo a população, a pronta intervenção dos bombeiros evitou o pior. "Havia fogo por aqui nestas matas pela beira das casas e depois as chamas que saíam das giestas entraram para dentro de casa dela, começou a arder e queimou-lhe tudo o que ela tinha, só ficou com a roupinha que tinha vestida. Não teve tempo de tirar nada", contou, ao JN, uma vizinha que acolheu a idosa desalojada durante várias horas.
"Ela estava muito nervosa, passou o dia a chorar. Isto foi uma desgraça muito grande", referiu. A mulher terá sido instalada em casa de familiares em Castro Laboreiro. Transtornada com o sucedido estava também Palmira Rodrigues, 64 anos, moradora na habitação ao lado da que foi devastada pelo fogo e que teve de ser "tirada à força" de casa pelos bombeiros. "O lume andou muito depressa. A minha casa esteve quase a arder, mas vá lá que estavam aqui os bombeiros e protecções civis de toda a parte. Eu tive muito medo e não queria sair da casa, mas fizeram-me sair à força porque estava em perigo", contou, afirmando: "O fogo foi posto. Toda a gente sabe disso".
O incêndio que lavrava em duas frentes desde segunda-feira à tarde, na serra, em Castro Laboreiro, foi dado como extinto de madrugada, às 3 horas, reacendeu ontem pela manhã e foi debelado ao fim da tarde de ontem. Segundo Robalo Simões, do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Viana do Castelo, as chamas atingiram a habitação "porque o rés-do-chão tinha muita palha e lenha com fartura e com alguma facilidade propagou o fogo". "Em minutos, a casa ficou tomada e não houve possibilidade de a salvar", adiantou.
Cerca das 18 horas de ontem, o mesmo responsável dava como circunscrito um outro fogo que ardia em simultâneo na freguesia vizinha de Lamas Mouro, há cerca de 24 horas. Sobre a origem destes incêndios quem anda no terreno a combatê-los recusa-se a aventar qualquer hipótese, mas entre a população muitos são os que afirmam haver nesta situação "mão criminosa".
"Já viu alguma coisa arder sem lhe fazer lume? Para acender um cigarro não tem de lhe pôr lume para arder? Pois aqui é a mesma coisa", comentava indignado Manuel Rodrigues, 68 anos, acrescentando: "Se eu soubesse quem foi, já estava na cadeia ou ia buscá-lo pela gola do casaco e metia-o no meio do lume".
Parques naturais em 2008
Montesinho
Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, em 2008, entre todas as áreas protegidas do país, foi no Parque Natural de Montesinho que ardeu maior área: 1398 hectares. Segue-se o da Serra da Estrela (589) e o da Peneda-Gerês (238).
Área ardida
Em 2008, arderam menos 25697,445 hectares em áreas protegidas, com destaque para o Parque Natural de S. Mamede, com menos 10305,57 hectares relativamente ao ano anterior. No Parque Natural de Montesinho arderam mais 1302 hectares que em 2007.
Ana Peixoto Fernandes, Jornal de Notícias, 25/Março/2009
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