Incêndios: população de Melgaço culpa «falta de limpeza»
A população de Castro Laboreiro promete unir-se para reerguer a casa destruída pelas chamas
A população de Castro Laboreiro, Melgaço, em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), culpa a falta de limpeza das matas pelos incêndios desta semana. Ermelinda Conde, que viu terça-feira a casa completamente pelo fogo, não hesita um segundo em apontar culpas pela tragédia.
«O incêndio começou além, bem longe. O meu senhor acha que, se as matas estivessem limpas, o fogo vinha por aí abaixo com a velocidade e a força com que veio, que mais parecia o demo?», questiona a idosa, ainda assustada com a memória, Ermelinda Conde, 71 anos, apontando para o cimo do monte.
As críticas à alegada falta de limpeza das matas são partilhadas pelo presidente da Junta de Freguesia de Castro Laboreiro, Avelino Esteves, e pelo comandante dos Bombeiros Voluntários de Melgaço, José Pereira, que apontam também o dedo à dificuldade de acessos e à escassez de linhas corta-fogo.
O secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, já assegurou que «a limpeza é uma rotina nas áreas protegidas», mas ressalvou que isso «é diferente de dizer que está tudo limpo e em toda a parte».
Mas o autarca de Castro Laboreiro não concorda, nem pouco mais ou menos, com o secretário de Estado. «Há uma enorme falta de limpeza no Parque. Às vezes, mais parece que é uma terra de ninguém. Quem devia dar o exemplo nada faz. Agora foi uma casa que ardeu, de hoje para amanhã nova tragédia pode acontecer. E o Parque vai continuar a assistir a isto de braços cruzados?» - insurgiu-se Avelino Esteves.
Manuel Rodrigues mora mesmo ao lado da casa que ardeu e também não cala a sua revolta pela alegada «indiferença» com que os responsáveis do PNPG olham para as populações residentes naquele espaço natural.
«E eles? Não deviam também ser multados por não limparem o que lhes compete?»
«A nós, pedem-nos para limparmos e até nos ameaçam com multas e tudo. E eles? Não deviam também ser multados por não limparem o que lhes compete?», acrescenta.
O presidente da Junta aponta o envelhecimento da população como a principal explicação para o «crescente matagal» em que aqueles terrenos se transformaram. «Enquanto as pessoas cultivavam as terras, pelo menos nas imediações das casas os terrenos estavam limpos. Mas à medida que a idade foi avançando e as forças faltando, a agricultura também foi sendo deixada de lado. E agora é o que se vê», afirma Avelino Esteves.
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Melgaço, José Pedro Pereira, avança com um outro factor que dificulta «e muito» o trabalho dos homens da paz: os acessos. «Há muitos acessos bastante danificados, em muito mau estado mesmo. É praticamente impossível chegar ao interior de certas matas», refere.
População solidária
A população de Castro Laboreiro, em Melgaço, promete, entretanto, «arregaçar as mangas» e ajudar na reconstrução da casa de Ermelinda Conde, que foi terça-feira devorada pelas chamas, ficando apenas com as paredes exteriores de pé.
«Somos uma freguesia de gente simples mas extremamente solidária. Aqui, quando toca a ajudar, ajudam todos», disse, à Lusa, a sapadora florestal Carmo, enquanto colaborava nas acções de remoção dos escombros da casa de Ermelinda.
«Vamos mobilizar um peditório por Castro Laboreiro e pelas freguesias vizinhas», pelo que, «certamente conseguiremos voltar a pôr esta casa de pé. Onde todos ajudam, nada custa, não é?», acrescentou aquela sapadora.
Ermelinda Conde, viúva, com 71 anos de idade, viu a casa onde morava há meio século, no lugar de Coriscadas, ser terça-feira destruída pelas chamas, na sequência de um incêndio que deflagrou no monte vizinho, em pleno Parque Natural da Peneda-Gerês.
Redacção / MM, IOL Diário, 28/Março/2009. Fotos: Arménio Belo / LUSA
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