quarta-feira, 29 de abril de 2009

Castro Laboreiro no século XVI


" (...) Duarte de Armas deixou uma sucinta mas preciosa descrição textual do itinerário que seguiu ao longo da fronteira entre Portugal e Castela, de Castro Marim até Caminha. Na região em estudo, depois de ter visitado e desenhado as fortalezas situadas a leste da Serra do Gerês, onde a fronteira era mal definida (fortalezas de Montalegre, Portelo e Piconha), ele ignorou sem explicação a fortaleza do Lindoso e cortou directamente através da parte galega do vale do Lima (fig. 5). Atravessando ‘cinco léguas de serras e muitas ribeiras’, chegou a Castro Laboreiro, onde tirou a planta e duas vistas da fortaleza (fig. 6). A seguir, desceu para Melgaço, que desenhou também.

Fig. 5 - Itinerário de Duarte de Armas (1509), Álvaro Vaz (1527) e Claude de Bronseval (1533) na região da Serra da Peneda

Dezoito anos mais tarde, outro funcionário foi encarregado pelo Rei de levantar a região, desta vez para descrever não a fronteira, mas a implantação e organização administrativa dos moradores. Ao começar o Numeramento de Entre Douro e Minho, em Agosto de 1527, Álvaro Vaz saiu de Ponte da Barca (povoação com 100 moradores) para o concelho do Lindoso (fig. 5). Disse deste que ‘não tem vila nem lugar junto e tem somente um castelo ermo’ e apenas 41 moradores. Se a situação já era a mesma em 1509, como é provável, entende-se por que Duarte de Armas não foi ‘pintar’ aquele castelo. Álvaro Vaz passou dali para o concelho e montaria do Soajo, que ‘não tem castelo nem vila (…) e não tem lugar junto e vivem por casais apartados (…) 92 moradores’. Verifica-se quanto o vale português do Lima, a montante de Ponte da Barca, era então pouco povoado. O concelho de Vale de Vez, que visitou a seguir, ‘tem somente junto a povoação de Arcos de Vez, em que fazem as audiências’. A povoação era pequena já que a respectiva freguesia reunia apenas 36 moradores. Mas o conjunto do concelho era bem povoado (1653 moradores), como era o concelho a seguir visitado, Coyra e Frayam (1067 moradores).

Dali, Álvaro Vaz foi a Castro Laboreiro, caminhando sem dúvida ao longo do vale do Rio Mouro. ‘Este concelho de Castro Laboreiro é del Rei Nosso Senhor (…) e tem um castelo sobre uma fraga, ermo, povoado de gralhas (…), no qual concelho não há povoação junta, somente por casais apartados, vivem no Verão neste concelho 100 moradores, porque no Inverno se vão viver fora por ser terra fria’. Voltando a considerar o desenho de Duarte de Armas (fig. 6), parece que o autor já terá visto as gralhas de que irá falar Álvaro Vaz 18 anos depois, e também por este último não considerou ‘lugar junto’ as poucas cabanas agrupadas à volta da pequena igreja".


2 comentários:

Bocanegra disse...

Boa malha "sim senhor"!

Nunca tinha ouvido falar do "Àlvaro da Gralhas"

M. disse...

:)