sábado, 4 de dezembro de 2010

Concentração de escolas duplicou alunos sem aulas


Ontem, 26 mil estudantes ficaram em casa por terem sido colocados em agrupamentos escolares e não conseguirem lá chegar.


O encerramento de escolas e a concentração dos alunos em novos centros, com o consequente aumento da necessidade de transporte, fez este ano disparar o número de estudantes que ficaram sem aulas devido à neve e ao gelo. Para a presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), Maria José Viseu, o número de alunos afectados terá mesmo duplicado em relação ao ano lectivo anterior. Ontem, 26 mil alunos continuaram sem ir à escola.

Em muitos locais do interior Norte e Centro do País, apenas os estudantes das sedes dos concelhos tiveram aulas. A baixa das temperaturas transformou a neve em gelo e ontem viveu-se um dos piores dias da semana, com aldeias isoladas em Montalegre, Boticas, Guarda, Manteigas ou Trancoso e muitas estradas cortadas. Para hoje está previsto um dia de sol, sem neve, mas ainda com temperaturas negativas em muitos pontos do interior. Pior está a Madeira, que tem alerta vermelho.

Foi uma das noites mais frias do Outono - com 7 graus negativos na Guarda ou 4 graus negativos em Viseu -, e, tal como nos últimos dias, as aulas tiveram de ser total ou parcialmente suspensas em vários concelhos. "Nas zonas do interior, como a maioria dos alunos tem de utilizar transportes, não têm conseguido deslocar-se devido à neve e ao gelo", refere Maria José Viseu.

O fecho de mais 700 escolas do 1.º ciclo com menos de 20 alunos - no final do ano lectivo anterior - provocou um aumento do número de estudantes que vão de transportes para os novos centros. Logo, "este ano há uma diferença muito grande. Talvez o dobro dos alunos estão a ficar em casa este ano", justifica a dirigente da CNIPE. Já para o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), nestes dias o melhor é as escolas fecharem. "As crianças não vão à escola porque é perigoso", frisa Albino Almeida.

Em Viseu, foram afectados oito mil alunos dos concelhos de Lamego, Vila Nova de Paiva e Moimenta da Beira. Na Guarda, "por prudência, as aulas foram suspensas nos concelhos de Aguiar da Beira, Gouveia, Seia, Manteigas, Sabugal, Guarda e Trancoso", afectando 15 mil estudantes, revelou o Governo Civil. Três mil dos concelhos de Montalegre, Boticas e Vila Pouca de Aguiar ficaram em casa.

Em Vouzela, "apenas os alunos da vila tiveram aulas, porque os da serra não se puderam transportar", conta o autarca. Telmo Antunes lembra que "este é um dos problemas resultantes do reordenamento escolar, porque antigamente os alunos estavam nas aldeias e iam a pé para as aulas". Em Lamego, "o não funcionamento da rede de transportes" também fechou as escolas, diz o autarca Francisco Lopes.

Os cerca de 300 alunos do ensino básico de Paredes de Coura que viajam todos os dias para o centro escolar construído na vila ficaram em casa. Por precaução, devido ao "gelo e neve acumulada na estrada", explica o presidente da Câmara. Em Melgaço, cerca de meia centena de crianças continuou sem ir às aulas, sobretudo nas aldeias do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Já que a viagem é feita por uma estrada com mais de 30 centímetros de neve.


Ana Bela Ferreira com Amadeu Araújo e Paulo Julião, Diário de Notícias, 04-12-2010


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