segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Jornalista percorreu Portugal a pé à descoberta do país profundo


Um jornalista de 48 anos termina no domingo, em Melgaço, a volta a Portugal a pé, uma aventura à descoberta do “país profundo” que começou em fevereiro de 2008, em Sagres.

A meta da odisseia do jornalista andarilho Nuno Ferreira está “instalada” na aldeia mais setentrional de Portugal, concretamente o lugar de Cevide, na freguesia de Cristoval, em Melgaço, junto ao rio Minho.

A volta a Portugal a pé deverá agora resultar num livro, onde Nuno Ferreira quer perpetuar todas as “estórias” de uma viagem “que tem muito para contar”.

O trabalho está facilitado, porque durante a viagem fui escrevendo crónicas, quer para um jornal quer para um blogue, retratando todos os momentos. Agora, é só compilar esses trabalhos”, disse, à Lusa, o jornalista.

Foi em 23 de fevereiro de 2008 que Nuno Ferreira partiu de Sagres, na ponta sul do país, à descoberta do “Portugal profundo”, em serviço para a revista Única, do jornal Expresso.

Publicava crónicas semanais nessa revista, contando todas as peripécias da viagem, relatando vivências, dando a conhecer gente que vive no anonimato, perdida no interior, mas com deliciosas estórias de vida”, referiu.

Em setembro desse mesmo ano, Nuno Ferreira ficou sem colaboração com aquele jornal mas “já estava tão imbuído naquele espírito de descoberta” que decidiu continuar a viagem, a expensas próprias.

Por “problemas vários”, a odisseia conheceu um interregno praticamente durante todo o segundo semestre de 2009, mas depois Nuno Ferreira voltou a pôr os pés a caminho, passando a deixar “gravados” todos os momentos no site Café Portugal, de Rui Dias José, jornalista da Antena 1.

Nuno Ferreira confessa ter dificuldade em destacar os momentos e os locais mais marcantes desta viagem, mas sempre vai enumerando, aleatoriamente, Taberna Museu do Zé Pata Curta, no Alentejo, o “Ti Henrique” de 80 anos no último Poço da Morte em Portugal, ou as 2500 cabras de Covas do Monte, em Arouca, “que saltam como pipocas”.

Chegas de bois e mezinhas na Feira da Malhada, em Cinfães, os contrabandistas “Ti Fernando de Casares” que passava nos carreiros de bicicleta às costas ou Bento Barroso Grilo que passava na fronteira máquinas de jogo para o Casino da Póvoa, e as vidas dos guardiões de igrejas, mosteiros e capelas são outros registos que ficaram na objetiva de Nuno Ferreira.

Passou por peregrino de Fátima, por pedinte, por traficante de droga, e até houve quem tivesse chamado a GNR por ver “tão estranha criatura” a vaguear por uma aldeia recôndita do país no Vimioso, concelho de Bragança.

Na serra do Marão, perdeu-se, chamou os bombeiros, que só o localizaram a altas horas da madrugada, e um dos soldados da paz teve mesmo de ser resgatado de helicóptero.

Como se costuma dizer, isto dava um livro. E vai mesmo dar”, rematou Nuno Ferreira.

Correio do Minho, 21-11-2010

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